Hoje o Luka esteve na
escolinha pela manhã. Quando fui buscá-lo, percebi que estava meio mal
humorado. Chegou em casa fazendo tudo ao contrário do que eu dizia e respondendo
mal. Eu ignorei e fui fazer o almoço. Ele pegou todas as almofadas da sala e a
manta do sofá e fez uma “cama” no chão, deitou-se e ficou ali quietinho por uns
minutos. Pensando na vida, provavelmente lembrando-se da escolinha.
De repente, ele aparece
una cozinha com os braços abertos e uma cara meio triste e disse: “Everything
happened today! = Aconteceu tudo hoje”. Querido! Perguntei o que aconteceu e
ele disse que os meninos não o deixaram subir no barco, perguntei o que ele fez
e ele disse “eu saí andando e fui brincar lá dentro com um carro”.. sozinho? “sim”.
Bom, perguntei mais e aparentemente TUDO que aconteceu foi isso. Mas ele deve ter
ficado tão magoado, pobrezinho. Sentir-se rejeitado dói, algumas crianças
aprendem isso desde que nascem, infelizmente, e o Luka está experimentando essas
emoções agora que está sendo preparado para entrar na escola de verdade. Assim
que completar 4 anos, em julho de 2013, vai começar a pré-escola, em setembro,
sendo um dos mais novos da classe – mas como ele é grande, as pessoas pensam
que ele é mais velho e esperam atitudes mais maturas do que para a sua idade.
Nesse primeiro ano de pré-escola, a maior parte do tempo é dedicado a aprender
brincando, e o resto, acredito que um terço do tempo, é para sentar e estudar,
mas os professores não podem obrigar as crianças a sentarem, apensas encorajá-las.
Uma amiga me contou que sua filha que entrou na pré-escola no ano passado sentiu
uma dificuldade enorme de se adaptar aos intervalos, porque não estava
acostumada com a quantidade de crianças brincando, sem ter a mãe ou algum
familiar de referencia por perto. A menina sentava num cantinho e ficava ali o
tempo todo. Quando a mãe conversou com a professora, ela procurou uma outra
menina com o mesmo problema e estimulou a amizade entre as duas, que então se
sentiram mais seguras. Imagino algo assim acontecendo com o Luka!
Enfim, já fico
preocupada sobre como será quando o Luka for para a escola. Esse é o meu maior
medo, que ele seja excluído. Ele é meio tímido, demora para se ambientar, e para
piorar, é sentimental, fica magoado rapidinho. Já fico imaginado ter que falar
com as outras mães para pedir que digam a seus filhos que sejam legais com ele
haahhhhaa, superprotetora, será? O que será que se deve fazer, tentar proteger
para que não sofram muito, não aprendam a excluir e ser excluidos, e para que
tenham uma infância mais feliz, ou deixar que as experiências ruins o ensinem
sobre a vida, a ser mais forte? A segunda resposta parece mais convincente, mas
não haveria consequências negativas? Como se tornar menos afetivo e mais
resignado, talvez ainda mais introvertido, como forma de auto-proteção? Você já
parou para pensar como as crianças podem ser muito ruins com as outras? Vai
dizer que você nunca se aliou a um grupinho na escola e ficou zombando de alguém,
ou não deixou um colega fazer uma atividade com você, ou algo assim, atitudes
que tem base na sinceridade, mas que são consideradas “bulliyng”, palavra tão
utilizada recentemente, que significa agressão psicológica e física, e que
ainda não tem tradução oficial em português.
Pois o que aconteceu
com o Luka hoje é uma forma de “bulimento”. Aqui na Inglaterra, o assunto é
encarado com muita seriedade, e um livro entitulado “Bullying – o que os adultos
precisam saber e como manter as crianças seguras”, ensina: (Traduzo livremente)
- Andar
com atenção, calma, respeito e confiança. Oriente a criança a manter a cabeça para
cima, coluna reta, andando com firmeza, olhando ao redor e com expressão pacífica,
assim ela será um alvo mais improvável. Faça a criança andar pela casa enquanto
você ensina.
- Ensine
a criança a evitar agressores, como desviar em corredores, e a proteger o seu
espaço, colocando as mãos na frente do corpo com a palma aberta e dizendo “Pare!”,
sem medo ou agressividade, olhando nos olhos do agressor. Também ensine a
gritar, para caso de necessidade, e procurar a ajuda de um adulto.
- Ensine
a criança a se proteger de insultos, e que ofender de volta piora a situação.
Uma maneira de tirar o poder de palabras que machucam é dizê-las em voz alta e
imaginar que está jogando a palabra fora. Pratique em casa. Por exemplo, se
alguém diria “você é estúpido”, a criança deve repetir a frase em voz alta e
imginar que a está colocando na lixeira, e depois dizer uma frase positiva como
“eu sou esperto”, e “guardar” a frase para si. Para “eu não quero brincar com
você”, use “vou encontrar outro amigo”.
- Ser
deixado de fora é uma das maiores formas de bullying. (Ah, então eu tenho razão em me sentir responsável por protegê-lo!)Exclusão
deveria ser contra as regras da escola. A criança pode praticar com você insistindo
para participar de um jogo. Ensine-a ser positiva e simpática, dizendo “eu
quero jogar”. Pergunte a ela quais são os motivos que os outros dão quando
dizem não. Se eles dizem “você não sabe bem”, ensine a dizer “vou aprendendo
jogando mais”, para “tem muita gente”, “sempre tem lugar para mais um”, e para “você
trapaceou na última vez”, “eu não sabia bem a regras, vamos combinar tudo antes
de começar”.
- Crianças
precisam aprender a pedir ajudar e insistir, mesmo que os adultos ignorem.
Aprender a usar palavras firmes e educadas, linguagem corporal e tom de voz sob
pressão, e não desistir quando precisar de ajuda são habilidades úteis para o
resto da vida. Encene uma situação com a criança, fazendo de conta que você é o
adulto para o qual ela está pedindo ajuda na escola, e você está ocupado e fica
irritado, ensine-a a insistir e explicar que não se sente segura, que não se
sente bem, que não gosta da escola por causa disso, etc. Após insistir
bastante, deveria funcionar, mas se não, ensine-a a procurar outro adulto e a
contar o problema em casa.
- Criança
precisa aprender em que situação ela tem o direito de machucar alguém para se
defender. Brigar é o último recurso – quando ela vai ser machucada e não pode
sair ou chamar ajuda. Aprender a usar defesa física própria ajuda a criança a
se sentir mais segura, mesmo que nunca precise utilizar o recurso. Sendo mais
confiante, ela deixará de ser alvo constante. Deixe a criança praticar com uma
almofada chutar alguém no queixo, ou beliscar a coxa ou braço, ou bater no
peito, ou leve-a para alguma classe de defesa.
Bom, a base de tudo
isso parece ser a auto-confiança, e acredito que a melhor forma de começar a aprender
é copiando, seguindo o exemplo dos pais e adultos mais próximos. Haja sempre
com segurança, firmeza, respeito e simpatia na frente do seu filho para que ele
copie seu comportamento. Foi isso que aprendi com essa leitura. (Eu sou mais tímida
e insegura que o Ryan, e infelizmente parece que ele puxou mais para a mãe, mas
tenho certeza de que o exemplo do pai vai ser positivo no futuro, até eu aprendo!)
Esse texto parece ser
muito básico e inocente, mas se pensarmos bem faz bastante sentido, porque o cérebro
infantil e sua experiencia de vida ainda não considera essas soluções “simples
demais para funcionar”. Elas são como uma base de comportamento social que a criança
está começando a vivenciar, e fazem parte da formação do caráter.
Também na internet, li
um depoimento interessante. Uma mãe conta que o filho autista sofria de bullying
na escola. Quando ela identificou os agressores, conversou com a diretora, que
passou a colocar os agressores junto com o seu filho para comer e para andar da
escola para casa. Com o tempo, os agressores passaram a ser amigos do menino e até
se tornaram os seus protetores contra novos bullies.
Outra dica: tenha
certeza de que seu filho tenha um ou dois amigos na escola, porque os
agressores sempre atacam os solitários. E explique que não há nada de errado em
sentir medo ou ficar triste, mas que deve fazer um esforço para não chorar na
frente do agressor, porque isso piora a situação. Outra coisa: explique a seu
filho que não há nada de errado com ele.
E para os pais: trate
agressores com respeito e educação, pois assim eles serão menos
inclinados a pegar no pé do seu filho.
Estou me sentindo um
pouco mais segura após ler mais sobre o assunto. Acredito que a participação
dos pais é essencial para o sucesso na vida escolar dos filhos, e nos
relacionamentos. Antes me sentia culpada por ser superprotetora, agora sinto
que sou responsável, e que se todos os pais se preocupassem em educar seus
filhos dessa maneira, o mundo seria um lugar bem mais pacífico.
Daqui a pouco, quando
for horário de dormir do Luka, vou propor uma encenação, fazendo de conta que
sou o menino da escolinha que não o deixou entrar no barco, e ensinando a ele
como agir.
- falta
de empatia e consideração para com os sentimentos alheios;
- necessidade
de estar o tempo todo no controle das situações;
- frustrar-se
facilmente;
- falta
de habilidade social ou interpessoal;
- culpar
tudo e todos por seus atos;
- necessidade
de vencer sempre ou de ser o melhor em tudo;
- parecer
ter prazer ao ver o sofrimento alheio;
- não
demonstrar remorso por atitudes ou comportamentos negativos;
- interpretar
sempre as atitudes alheias como hostis ou agressivas;
- atacar
para evitar ser atacado;
- ignorar
normas e regras;
- procurar
sempre atenção, seja positiva ou negativa;
- ter
amigos que são má influência;
- prazer
em ferir ou maltratar animais;
- ter
pais rígidos ou permissivos em excesso;
- ter
sido vítima de bullying por parte de colegas ou de alguém da família.