Dizem que é normal mãe ficar enxergando perigo em
tudo… instinto protetor… e na verdade acredito que um pouco de medo é bom,
porque nos mantém em estado de alerta. Talvez medo não seja a melhor palavra,
talvez seja responsabilidade. Mas responsabilidade sobre a vida do seu filho dá
medo, pode ser? Talvez seja simplesmente amor. Esse amor de mãe, que não sei
explicar, não encontro comparação ou palavras à altura.
Amor de pai deve ser igual, imagino. Lembro quando o Luka era bebezinho e estávamos
no estacionamento de um parque, Luka na cadeirinha de bebê daquelas que você
tira do carro e encaixa no carrinho pra passear. Ryan colocou a cadeirinha no
chão ao lado dele, atrás do carro, enquanto colocava o carrinho no porta-malas,
e, quando foi pegar o Luka, disse: “imagina se eu esqueço que estou com o Luka
e entro no carro e dou a ré em cima da cadeirinha?”. Essa cara de choque que
você está fazendo, foi a minha, 100 vezes pior. Ryan estava até com vergonha do
que ele tinha acabado de falar, por ter um pensamento tão horrível! Passado meu
choque, senti simpatia pela preocupação dele, e entendi que éramos cúmplices na
responsabilidade, e que ele deve entender meus medos.
Voltando ao avião, o
medo que sinto é sempre antes, e não durante. No vôo, nem penso muito nisso e
me sinto segura. A preocupação ali é se o Luka vai chorar, se vai dormir, se
vai comer. Odeio criança chorando em avião, se for a minha, pior ainda! Vale
lembrar que o tempo de Londres a São Paulo é de aproximadamente 11 horas! O
curioso também é que não tenho medo em vôos nacionais, acho que meu problema é
mesmo com a água!
Na primeira vez que o
Luka foi ao Brasil, eu estava sozinha. Fiz um preparo psicológico muito grande
para enfrentar o vôo, e fui tranquila. Primeiro, chequei todos os procedimentos
de primeiros socorros e os de casos de emergência no avião. Depois, pensei no
que fazer com o bebê. A verdade é que penso demais. Deveria pensar menos e rir
mais. Ia dar menos rugas na testa! Enfim, este é o típico caso em que não adianta
ficar se PRE-OCUPANDO com algo que ainda não está acontecendo.
No dia da viagem,
deixei o Ryan, minha sogra e cunhada cuidarem do Luka a maior parte do dia,
para eu descansar bastante. Comprei um daqueles “canguru” (Baby Bjorn, ótimo),
para carregar o Luka no aeroporto e não me preocupar com carrinho, já que eu
usava o Quinny, nada compacto para viajar. Foi tudo tranquilo, até no banheiro
ele foi comigo! (Não vai me dizer que sou a única que tem medo de deixar o bebê
sozinho no carrinho do lado de fora da porta do banheiro do aeroporto???)… Entramos
no avião, troquei a fralda, brinquei um pouquinho com ele, e na hora de decolar
dei leite. Sabe quando você sente pressão nos ouvidos e engole a seco para
passar a agonia? Pois é, bebê não sabe se defender assim como nós, e acaba
chorando horrores. O recomendado é dar o peito, ou chupeta, ou até um pirulito
para o bebê chupar, assim estará fazendo o movimento de engolir constantemente,
aliviando a pressão nos ouvidos. Comecei a amamentar o Luka quando o avião
estava preparado para decolar, e antes mesmo de ele subir, ele já havia
dormido. Não viu nada, não chorou, não acordou! Eu levei um monte de
brinquedinhos na bolsa, mordedores, adesivos, livros, um espelho (bebê gosta de
ficar se olhando!)… não precisei quase nada. Luka ficou dormindo naquelas
cadeirinhas que são colocadas para bebês no avião. Assisti a algum filme,
dormi, descansei. Ele acordou faltando umas 3 horas para pousar. Mamou, brincou
com um móbile que levei para a cadeira dele enquanto eu tomava café, depois
dormiu de novo. Péssima foi a chegada em SP, pleno dezembro, um calor
insuportável naquele aeroporto feio e abafado, Luka fez cocô que vazou da
fralda e sujou a roupa dele, e eu precisava fazer o check-in para o próximo vôo
para Cuiabá – para depois enfrentar a estrada por mais umas 3 ou 4 horas – e se
fosse no banheiro que era longe, não daria tempo… pobrezinho… e depois quando
fui trocar, o banheiro queeeente, meio sujo, ai, ai… realmente senti e ainda
sinto a diferença de sair daqui e chegar no Brasil em tudo o que envolve a palavra
PÚBLICO. No vôo para Cuiabá o Luka chorou por uns 15 ou 20 minutos, choro que
eu conhecia muito bem, choro de muito cansaço, eu nem entrei em pânico porque
eu sabia que aquele choro ia acabar logo e ele ia dormir, o que fez pelo resto
do tempo. Foi acordado pela cunhadi Paola que estava esperando no aeroporto e
até trocou a fralda dele enquanto eu esperava as malas. Ajuda, santa ajuda,
como é bom! Dias depois o Ryan foi ao Brasil, e voltamos juntos para casa. O
retorno, apesar da companhia do marido, foi mais difícil porque o Luka chorou
no começo e demorou para dormir, e nessas horas só o colo da mamãe serve… Mas
depois das primeiras horas tudo foi tranquilo.
Na segunda e terceira
viagem ao Brasil, fui sozinha de novo (carregando todos os meus medos pesados!),
pois o Ryan estava trabalhando. A rotina foi a mesma, comer, dormir. No passado, o vôo Sp-Londres atrasou 4 horas, e quanto mais cansado o Luka ficava, mais querido... inacreditável! Nesta
última viagem, que foi no mês passado, quando o avião decolava eu disse “Luka, olha na
janela, vamos subir para o céu”. Ele olhou para a janela e os olhos piscavam,
pesados. Dormiu em 10 segundos, acordou faltando 50 minutos para pousar em SP.
Abençoado, esse meu filho! O que eu aprendi, nessas 3 viagens, é que não
adianta levar um monte de coisas para entreter a criança. Leve o mínimo, ainda
mais se você tem que carregar tudo. Leve um brinquedo favorito e umas revistinhas,
giz de cera, adesivos, um dvd portátil se seu filho assiste xuxa/patatipatatá...
Quanto mais novo for o bebê, mais fácil, pois ele não sabe mesmo onde está, para
ele tanto faz, e ainda não sabe perguntar se falta muito ou se já pode descer!
Agora fico imaginando
como vou fazer se tiver outro filho.. fora o preço das passagens, as preocupações,
malas e cansaço em dobro… é o preço de morar longe de casa… Quanto aos meus medos, tendem a piorar, me parece. Ainda bem que já saltei de pára-quedas, fiz bungee jump, e outras aventuras de menor risco, porque hoje até roda-gigante me parece insegura! Não é o medo de me machucar, é o medo de ficar sem meu filho, ou do meu filho ficar sem mãe.
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