Eu sempre soube dos
cuidados a tomar com um recém nascido em relação à cabeça para não ficar
achatada. Mas a teoria é bem mais fácil do que a prática.
Foi minha mãe que
notou, logo nas primeiras semanas, que o Luka sempre virava a cabeça para o seu lado direito quando dormia. Virou uma obcessão, eu estava sempre cuidando e virando
para a esquerda, quando ele dormia ou estava sentado. Desde que nasceu, coloquei o
Luka dormindo de costas, que é o recomendado por ser a forma mais segura para o
bebê (visa evitar a morte súbita). Ele passava os seus dias entre a moisés de dormir, a moisés do carrinho, a
cadeirinha do carro, a cadeirinha de balanço, e diversos colos. Evitei deixar
ele no colo o tempo todo para não acostumar, e sempre que queria colocá-lo para
dormir, se não fosse após mamar dormindo no colo, usava a moisés do carrinho e
empurrava em casa, no jardim, ou no parque. Bastava sair de casa para ele cair
no sono. E onde ele encostasse, virava para o lado direito. Eu tentava colocar
uma fraldinha daquele lado e virava pro esquerdo, mas mesmo assim ele acabava
afastando a fralda com a cabeça e voltava para a outra posição. Na primeira
semana, Luka mamava a cada 1h30 ou 2hrs, assim, quando eu dormia, era impossível
ficar verificando a cabeça. Nas semanas seguintes, mamava a cada 3 horas, e
depois 4. Lembro da minha alegria a primeira vez que dormi por 4 horas, foi uma
renovação, me senti tão bem (hoje se durmo apenas 6 horas fico muuuito mal
humorada!). Enfim, quando o problema tinha que ser cuidado, foi uma época muito
difícil. Enquanto minha mãe estava aqui, ela ainda ajudava, mas depois ficamos
só eu e o Ryan, e homem geralmente não cuida dessas coisas do mesmo jeito que
mulher, o Ryan esquecia mesmo, não era porque achava besteira. E a cabecinha do
Luka foi ficando bem achatada, e eu comecei a colocar despertador para levantar
e virar, mas também não deu certo, se eu não dormisse o pouco que podia, acabava
ficando extremamente cansada e impaciente, mal-humorada, e não dava conta das
tarefas diárias. Nunca tive babá ou ajuda, aparte da minha sogra e chunhada,
que de vez em quando cuidavam dele por umas horas. Mas também não foi por falta
de vontade, foi por minha escolha de amamentar que me tornou escrava da fome
dele, e quanta fome! As mulheres do centro de saúde comentavam o quanto ele
estava crescendo bem apesar de não tomar fórmula (bebês que tomam mamadeira
engordam mais, mas o Luka engordou no mesmo padrão, fui até convidada para ir a
um grupo de grávidas falar sobre amamentação – no fim não fui).
Voltando ao assunto, me
sinto muito culpada por causa da cabecinha dele.
Depois que notei que estava achatando, fiz tudo o que pude durante o dia.
Colocava ele deitado de barriga para baixo enquanto acordado (tummy time), posição
que ele odiava, chorava muito, tinha que deixar só uns minutos a cada vez porque
ele realmente detestava, mesmo que fosse no colo sobre as pernas, não
funcionava. Eu também virava a cabeça dele constantemente quando estava na
cadeirinha, ou passeando no carro ou carrinho,e colocava uns brinquedos interessantes
do lado esquerdo para ele ficar olhando, mas com pouco sucesso. Todos os
familiares estavam avisados para agir da mesma forma. Nessa época ele já dormia
a noite toda, então eu estava mais descansada e acordava para ver como ele
estava e virar a cabeça. Lógico que foi melhorando, e a médica disse que se eu
continuasse cuidando iria voltar ao normal quando ele começasse a sentar e
rolar na cama, então fiquei um pouco mais tranquila. Ela me deu um monte de
material sobre cuidados e exercícios rotineiros. Ia comprar aquele
travesseirinho que tem um buraco no meio para manter a cabeça no lugar, mas já
era tarde porque ele estava forte e se mexia na cama. Ele sentou aos 4 meses
mas só rolou lá pelos 6 ou 7. Fui informada de que até os 18 meses voltaria ao
normal. Mas não voltou. Uma amiga daqui teve o mesmo problema, mas pior, e
colocou o capacete no filho dela, que resolveu (deu até sorte, porque o menino
um dia caiu do topo da escada de sua casa e não se machucou graças ao
capacete!). Se não me engano, no Brasil, apenas em São Paulo existe uma clínica
que oferece esse tratamento, privado. Aqui também é privado e na época custava
2 mil libras. Não foi pelo custo, mas porque conversamos com a médica e vimos
que estava melhorando, então decidimos não colocar, achei judiação ele passar o dia inteiro com um capacete por 3 ou 6 meses... e quando me arrependi, já
era tarde demais. Insuportável era escutar os comentários “a cabecinha
dele é um pouco achatada né?”, “e a cabecinha dele, vai melhorar?”… que ódio
escutar, a famosa verdade que dói, como se eu não soubesse, como se eu não sofresse com isso, como se eu
não me esforçasse para cuidar!
Luka dormindo na moisés, virado para o lado direito (1 semana)
Luka dormindo na moisés do carrinho, virado para o lado direito (2 meses, acho!)
Luka dormindo no berço de viagem, no Brasil, virado para o lado direito (4 meses) - notem o travesseirinho do lado para estimular que vire para a esquerda...
A cabeça dele não é
assim tão achatada (procurei alguma foto para mostrar mas não tenho nenhuma que apareça), e como ele tem bastante cabelo nem se nota, apenas quando
está molhado, mas mesmo assim não é legal. Inclusive porque sua orelha do lado
direito fica parecendo bem “aberta” (de abano) por causa da distância com a
cabeça, que é mais plana deste lado. Quando ele for adolescente ou adulto, se
quiser raspar o cabelo provavelmente vai ficar feio, e quando for na piscina ou
praia com amigos aposto que vão encher o pobrezinho de apelidos e rir dele.
Pelo menos ele vai ser alto e lindo, então vai ser apenas um defeitinho bobo! Também li que em casos graves pode-se desenvolver problemas na mandíbula e até estrabismo, mas não acredito que seja o caso do Luka.
De tudo isso, uma
das lições que aprendi foi dar atenção aos meus instintos e não confiar 100%
nos médicos. Aliás, lógico que, comparando com o Brasil, o sistema público de
saúde daqui é fenomenal, mas ainda é público, e a verdade é que está em uma péssima
crise e, cada vez mais, cortando gastos. O resultado é que qualquer problema
considerado estético é irrelevante e ignorado. A raiva que tenho é que não me importaria
de ter pago para escutar um médico especialista ou fazer um tratamento, mas acreditei,
ingenuamente, que estava em boas mãos.
Eu acho que o Luka
tinha torcicolo, por ser um bebê comprido, estar apertadinho no útero por tanto
tempo na mesma posição, e ainda ter passado 10 dias da data prevista. Talvez
houvesse alguma massagem que eu poderia ter aprendido, talvez uma fisioterapia
teria ajudado. De qualquer forma, meu próximo filho ainda vai dormir de costas,
mas vai ter o travesseirinho com buraco desde o dia 1, e vou tentar acostumar
mais de bruços desde o comecinho quando estiver acordado. (Vale lembrar que bebê não deve dormir com travesseiro, nem se for pequeno - resista à pressão da sua mãe, como eu!)
Travesseiros que se pode usar (acima) para prevenir a cabeça achatada
"
Travesseiro" (acima) que vi online e achei muito fofo!!!
Tapete para colocar o bebê de bruços - adoro esse estilo, tem uma almofadinha pra ajudar e um espelho pra distrair
Para quem procura e não encontra produtos como esses no Brasil, entre em contato comigo pelo adrianabah@gmail.com que eu vejo se posso ajudar!
Informações técnicas:
Plagiocefalia
posicional é o termo para definir cabeça achatada. Acontece depois do
nascimento, quando o bebê passa muito tempo na mesma posição, fazendo pressão
em um lado do crânio, que é molinho e flexível. Bebês múltiplos e prematuros
apresentam maior chances de desenvolver o problema.
O número de casos aumentou muito desde os anos 90, quando passou-se a recomendar dormir de costas.