terça-feira, 25 de setembro de 2012

Protegendo meu filho na escola


Hoje o Luka esteve na escolinha pela manhã. Quando fui buscá-lo, percebi que estava meio mal humorado. Chegou em casa fazendo tudo ao contrário do que eu dizia e respondendo mal. Eu ignorei e fui fazer o almoço. Ele pegou todas as almofadas da sala e a manta do sofá e fez uma “cama” no chão, deitou-se e ficou ali quietinho por uns minutos. Pensando na vida, provavelmente lembrando-se da escolinha.

De repente, ele aparece una cozinha com os braços abertos e uma cara meio triste e disse: “Everything happened today! = Aconteceu tudo hoje”. Querido! Perguntei o que aconteceu e ele disse que os meninos não o deixaram subir no barco, perguntei o que ele fez e ele disse “eu saí andando e fui brincar lá dentro com um carro”.. sozinho? “sim”. Bom, perguntei mais e aparentemente TUDO que aconteceu foi isso. Mas ele deve ter ficado tão magoado, pobrezinho. Sentir-se rejeitado dói, algumas crianças aprendem isso desde que nascem, infelizmente, e o Luka está experimentando essas emoções agora que está sendo preparado para entrar na escola de verdade. Assim que completar 4 anos, em julho de 2013, vai começar a pré-escola, em setembro, sendo um dos mais novos da classe – mas como ele é grande, as pessoas pensam que ele é mais velho e esperam atitudes mais maturas do que para a sua idade. Nesse primeiro ano de pré-escola, a maior parte do tempo é dedicado a aprender brincando, e o resto, acredito que um terço do tempo, é para sentar e estudar, mas os professores não podem obrigar as crianças a sentarem, apensas encorajá-las. Uma amiga me contou que sua filha que entrou na pré-escola no ano passado sentiu uma dificuldade enorme de se adaptar aos intervalos, porque não estava acostumada com a quantidade de crianças brincando, sem ter a mãe ou algum familiar de referencia por perto. A menina sentava num cantinho e ficava ali o tempo todo. Quando a mãe conversou com a professora, ela procurou uma outra menina com o mesmo problema e estimulou a amizade entre as duas, que então se sentiram mais seguras. Imagino algo assim acontecendo com o Luka!

Enfim, já fico preocupada sobre como será quando o Luka for para a escola. Esse é o meu maior medo, que ele seja excluído. Ele é meio tímido, demora para se ambientar, e para piorar, é sentimental, fica magoado rapidinho. Já fico imaginado ter que falar com as outras mães para pedir que digam a seus filhos que sejam legais com ele haahhhhaa, superprotetora, será? O que será que se deve fazer, tentar proteger para que não sofram muito, não aprendam a excluir e ser excluidos, e para que tenham uma infância mais feliz, ou deixar que as experiências ruins o ensinem sobre a vida, a ser mais forte? A segunda resposta parece mais convincente, mas não haveria consequências negativas? Como se tornar menos afetivo e mais resignado, talvez ainda mais introvertido, como forma de auto-proteção? Você já parou para pensar como as crianças podem ser muito ruins com as outras? Vai dizer que você nunca se aliou a um grupinho na escola e ficou zombando de alguém, ou não deixou um colega fazer uma atividade com você, ou algo assim, atitudes que tem base na sinceridade, mas que são consideradas “bulliyng”, palavra tão utilizada recentemente, que significa agressão psicológica e física, e que ainda não tem tradução oficial em português.

Pois o que aconteceu com o Luka hoje é uma forma de “bulimento”. Aqui na Inglaterra, o assunto é encarado com muita seriedade, e um livro entitulado “Bullying – o que os adultos precisam saber e como manter as crianças seguras”, ensina: (Traduzo livremente)

-      Andar com atenção, calma, respeito e confiança. Oriente a criança a manter a cabeça para cima, coluna reta, andando com firmeza, olhando ao redor e com expressão pacífica, assim ela será um alvo mais improvável. Faça a criança andar pela casa enquanto você ensina.

-      Ensine a criança a evitar agressores, como desviar em corredores, e a proteger o seu espaço, colocando as mãos na frente do corpo com a palma aberta e dizendo “Pare!”, sem medo ou agressividade, olhando nos olhos do agressor. Também ensine a gritar, para caso de necessidade, e procurar a ajuda de um adulto.

-      Ensine a criança a se proteger de insultos, e que ofender de volta piora a situação. Uma maneira de tirar o poder de palabras que machucam é dizê-las em voz alta e imaginar que está jogando a palabra fora. Pratique em casa. Por exemplo, se alguém diria “você é estúpido”, a criança deve repetir a frase em voz alta e imginar que a está colocando na lixeira, e depois dizer uma frase positiva como “eu sou esperto”, e “guardar” a frase para si. Para “eu não quero brincar com você”, use “vou encontrar outro amigo”.

-      Ser deixado de fora é uma das maiores formas de bullying. (Ah, então eu tenho razão em me sentir responsável por protegê-lo!)Exclusão deveria ser contra as regras da escola. A criança pode praticar com você insistindo para participar de um jogo. Ensine-a ser positiva e simpática, dizendo “eu quero jogar”. Pergunte a ela quais são os motivos que os outros dão quando dizem não. Se eles dizem “você não sabe bem”, ensine a dizer “vou aprendendo jogando mais”, para “tem muita gente”, “sempre tem lugar para mais um”, e para “você trapaceou na última vez”, “eu não sabia bem a regras, vamos combinar tudo antes de começar”.

-      Crianças precisam aprender a pedir ajudar e insistir, mesmo que os adultos ignorem. Aprender a usar palavras firmes e educadas, linguagem corporal e tom de voz sob pressão, e não desistir quando precisar de ajuda são habilidades úteis para o resto da vida. Encene uma situação com a criança, fazendo de conta que você é o adulto para o qual ela está pedindo ajuda na escola, e você está ocupado e fica irritado, ensine-a a insistir e explicar que não se sente segura, que não se sente bem, que não gosta da escola por causa disso, etc. Após insistir bastante, deveria funcionar, mas se não, ensine-a a procurar outro adulto e a contar o problema em casa.

-      Criança precisa aprender em que situação ela tem o direito de machucar alguém para se defender. Brigar é o último recurso – quando ela vai ser machucada e não pode sair ou chamar ajuda. Aprender a usar defesa física própria ajuda a criança a se sentir mais segura, mesmo que nunca precise utilizar o recurso. Sendo mais confiante, ela deixará de ser alvo constante. Deixe a criança praticar com uma almofada chutar alguém no queixo, ou beliscar a coxa ou braço, ou bater no peito, ou leve-a para alguma classe de defesa.
 
Bom, a base de tudo isso parece ser a auto-confiança, e acredito que a melhor forma de começar a aprender é copiando, seguindo o exemplo dos pais e adultos mais próximos. Haja sempre com segurança, firmeza, respeito e simpatia na frente do seu filho para que ele copie seu comportamento. Foi isso que aprendi com essa leitura. (Eu sou mais tímida e insegura que o Ryan, e infelizmente parece que ele puxou mais para a mãe, mas tenho certeza de que o exemplo do pai vai ser positivo no futuro, até eu aprendo!)

Esse texto parece ser muito básico e inocente, mas se pensarmos bem faz bastante sentido, porque o cérebro infantil e sua experiencia de vida ainda não considera essas soluções “simples demais para funcionar”. Elas são como uma base de comportamento social que a criança está começando a vivenciar, e fazem parte da formação do caráter.

Também na internet, li um depoimento interessante. Uma mãe conta que o filho autista sofria de bullying na escola. Quando ela identificou os agressores, conversou com a diretora, que passou a colocar os agressores junto com o seu filho para comer e para andar da escola para casa. Com o tempo, os agressores passaram a ser amigos do menino e até se tornaram os seus protetores contra novos bullies.

Outra dica: tenha certeza de que seu filho tenha um ou dois amigos na escola, porque os agressores sempre atacam os solitários. E explique que não há nada de errado em sentir medo ou ficar triste, mas que deve fazer um esforço para não chorar na frente do agressor, porque isso piora a situação. Outra coisa: explique a seu filho que não há nada de errado com ele.

E para os pais: trate agressores com respeito e educação, pois assim eles serão menos inclinados a pegar no pé do seu filho.

Estou me sentindo um pouco mais segura após ler mais sobre o assunto. Acredito que a participação dos pais é essencial para o sucesso na vida escolar dos filhos, e nos relacionamentos. Antes me sentia culpada por ser superprotetora, agora sinto que sou responsável, e que se todos os pais se preocupassem em educar seus filhos dessa maneira, o mundo seria um lugar bem mais pacífico. 

Daqui a pouco, quando for horário de dormir do Luka, vou propor uma encenação, fazendo de conta que sou o menino da escolinha que não o deixou entrar no barco, e ensinando a ele como agir.

O outro lado da moeda: como identificar se seu filho é um bully: (do site www.bullyingnaoebrincadeira.com.br)

  • falta de empatia e consideração para com os sentimentos alheios;
  • necessidade de estar o tempo todo no controle das situações;
  • frustrar-se facilmente;
  • falta de habilidade social ou interpessoal;
  • culpar tudo e todos por seus atos;
  • necessidade de vencer sempre ou de ser o melhor em tudo;
  • parecer ter prazer ao ver o sofrimento alheio;
  • não demonstrar remorso por atitudes ou comportamentos negativos;
  • interpretar sempre as atitudes alheias como hostis ou agressivas;
  • atacar para evitar ser atacado;
  • ignorar normas e regras;
  • procurar sempre atenção, seja positiva ou negativa;
  • ter amigos que são má influência;
  • prazer em ferir ou maltratar animais;
  • ter pais rígidos ou permissivos em excesso;
  • ter sido vítima de bullying por parte de colegas ou de alguém da família.

3 comentários:

  1. Fizemos a encenacao e ele adorou, pedia pra fazer de novo! Ainda nao saiu a voz firme, mas vamos trabalhando nisso. Ryan se envolveu na brincadeira e fizemos de conta que ele era o Luka e eu o amiguinho, foi otimo, Ryan falou olhando nos meus olhos e com muita firmeza, "Deixe-me entrar no barco" - ate eu me assustei com toda aquela seguranca, tive que falar pro Ryan que a ideia eh ensinar a ser firme mas sem agressividade - mas como eu falei, melhor o Luka aprender com o pai dele que eh melhor exemplo, foi bastante positivo mesmo, recomendo tentar!

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  2. Ótimo, seus textos são maravilhoso; já me ajudaram muito! Obrigada rs

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  3. Ótimo, seus textos são maravilhoso; já me ajudaram muito! Obrigada rs

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