quinta-feira, 21 de junho de 2012

Síndrome da cabeça achatada

Eu sempre soube dos cuidados a tomar com um recém nascido em relação à cabeça para não ficar achatada. Mas a teoria é bem mais fácil do que a prática.

Foi minha mãe que notou, logo nas primeiras semanas, que o Luka sempre virava a cabeça para o seu lado direito quando dormia. Virou uma obcessão, eu estava sempre cuidando e virando para a esquerda, quando ele dormia ou estava sentado. Desde que nasceu, coloquei o Luka dormindo de costas, que é o recomendado por ser a forma mais segura para o bebê (visa evitar a morte súbita). Ele passava os seus dias entre a moisés de dormir, a moisés do carrinho, a cadeirinha do carro, a cadeirinha de balanço, e diversos colos. Evitei deixar ele no colo o tempo todo para não acostumar, e sempre que queria colocá-lo para dormir, se não fosse após mamar dormindo no colo, usava a moisés do carrinho e empurrava em casa, no jardim, ou no parque. Bastava sair de casa para ele cair no sono. E onde ele encostasse, virava para o lado direito. Eu tentava colocar uma fraldinha daquele lado e virava pro esquerdo, mas mesmo assim ele acabava afastando a fralda com a cabeça e voltava para a outra posição. Na primeira semana, Luka mamava a cada 1h30 ou 2hrs, assim, quando eu dormia, era impossível ficar verificando a cabeça. Nas semanas seguintes, mamava a cada 3 horas, e depois 4. Lembro da minha alegria a primeira vez que dormi por 4 horas, foi uma renovação, me senti tão bem (hoje se durmo apenas 6 horas fico muuuito mal humorada!). Enfim, quando o problema tinha que ser cuidado, foi uma época muito difícil. Enquanto minha mãe estava aqui, ela ainda ajudava, mas depois ficamos só eu e o Ryan, e homem geralmente não cuida dessas coisas do mesmo jeito que mulher, o Ryan esquecia mesmo, não era porque achava besteira. E a cabecinha do Luka foi ficando bem achatada, e eu comecei a colocar despertador para levantar e virar, mas também não deu certo, se eu não dormisse o pouco que podia, acabava ficando extremamente cansada e impaciente, mal-humorada, e não dava conta das tarefas diárias. Nunca tive babá ou ajuda, aparte da minha sogra e chunhada, que de vez em quando cuidavam dele por umas horas. Mas também não foi por falta de vontade, foi por minha escolha de amamentar que me tornou escrava da fome dele, e quanta fome! As mulheres do centro de saúde comentavam o quanto ele estava crescendo bem apesar de não tomar fórmula (bebês que tomam mamadeira engordam mais, mas o Luka engordou no mesmo padrão, fui até convidada para ir a um grupo de grávidas falar sobre amamentação – no fim não fui).

Voltando ao assunto, me sinto muito culpada por causa da cabecinha dele. Depois que notei que estava achatando, fiz tudo o que pude durante o dia. Colocava ele deitado de barriga para baixo enquanto acordado (tummy time), posição que ele odiava, chorava muito, tinha que deixar só uns minutos a cada vez porque ele realmente detestava, mesmo que fosse no colo sobre as pernas, não funcionava. Eu também virava a cabeça dele constantemente quando estava na cadeirinha, ou passeando no carro ou carrinho,e colocava uns brinquedos interessantes do lado esquerdo para ele ficar olhando, mas com pouco sucesso. Todos os familiares estavam avisados para agir da mesma forma. Nessa época ele já dormia a noite toda, então eu estava mais descansada e acordava para ver como ele estava e virar a cabeça. Lógico que foi melhorando, e a médica disse que se eu continuasse cuidando iria voltar ao normal quando ele começasse a sentar e rolar na cama, então fiquei um pouco mais tranquila. Ela me deu um monte de material sobre cuidados e exercícios rotineiros. Ia comprar aquele travesseirinho que tem um buraco no meio para manter a cabeça no lugar, mas já era tarde porque ele estava forte e se mexia na cama. Ele sentou aos 4 meses mas só rolou lá pelos 6 ou 7. Fui informada de que até os 18 meses voltaria ao normal. Mas não voltou. Uma amiga daqui teve o mesmo problema, mas pior, e colocou o capacete no filho dela, que resolveu (deu até sorte, porque o menino um dia caiu do topo da escada de sua casa e não se machucou graças ao capacete!). Se não me engano, no Brasil, apenas em São Paulo existe uma clínica que oferece esse tratamento, privado. Aqui também é privado e na época custava 2 mil libras. Não foi pelo custo, mas porque conversamos com a médica e vimos que estava melhorando, então decidimos não colocar, achei judiação ele passar o dia inteiro com um capacete por 3 ou 6 meses... e quando me arrependi, já era tarde demais. Insuportável era escutar os comentários “a cabecinha dele é um pouco achatada né?”, “e a cabecinha dele, vai melhorar?”… que ódio escutar, a famosa verdade que dói, como se eu não soubesse, como se eu não sofresse com isso, como se eu não me esforçasse para cuidar!
Luka dormindo na moisés, virado para o lado direito (1 semana)
 

Luka dormindo na moisés do carrinho, virado para o lado direito (2 meses, acho!)

Luka dormindo no berço de viagem, no Brasil, virado para o lado direito (4 meses) - notem o travesseirinho do lado para estimular que vire para a esquerda...

A cabeça dele não é assim tão achatada (procurei alguma foto para mostrar mas não tenho nenhuma que apareça), e como ele tem bastante cabelo nem se nota, apenas quando está molhado, mas mesmo assim não é legal. Inclusive porque sua orelha do lado direito fica parecendo bem “aberta” (de abano) por causa da distância com a cabeça, que é mais plana deste lado. Quando ele for adolescente ou adulto, se quiser raspar o cabelo provavelmente vai ficar feio, e quando for na piscina ou praia com amigos aposto que vão encher o pobrezinho de apelidos e rir dele. Pelo menos ele vai ser alto e lindo, então vai ser apenas um defeitinho bobo! Também li que em casos graves pode-se desenvolver problemas na mandíbula e até estrabismo, mas não acredito que seja o caso do Luka.

De tudo isso, uma das lições que aprendi foi dar atenção aos meus instintos e não confiar 100% nos médicos. Aliás, lógico que, comparando com o Brasil, o sistema público de saúde daqui é fenomenal, mas ainda é público, e a verdade é que está em uma péssima crise e, cada vez mais, cortando gastos. O resultado é que qualquer problema considerado estético é irrelevante e ignorado. A raiva que tenho é que não me importaria de ter pago para escutar um médico especialista ou fazer um tratamento, mas acreditei, ingenuamente, que estava em boas mãos.

Eu acho que o Luka tinha torcicolo, por ser um bebê comprido, estar apertadinho no útero por tanto tempo na mesma posição, e ainda ter passado 10 dias da data prevista. Talvez houvesse alguma massagem que eu poderia ter aprendido, talvez uma fisioterapia teria ajudado. De qualquer forma, meu próximo filho ainda vai dormir de costas, mas vai ter o travesseirinho com buraco desde o dia 1, e vou tentar acostumar mais de bruços desde o comecinho quando estiver acordado. (Vale lembrar que bebê não deve dormir com travesseiro, nem se for pequeno - resista à pressão da sua mãe, como eu!)

Travesseiros que se pode usar (acima) para prevenir a cabeça achatada
 "Travesseiro" (acima) que vi online e achei muito fofo!!!

Tapete para colocar o bebê de bruços - adoro esse estilo, tem uma almofadinha pra ajudar e um espelho pra distrair

Para quem procura e não encontra produtos como esses no Brasil, entre em contato comigo pelo adrianabah@gmail.com que eu vejo se posso ajudar!

Informações técnicas:
Plagiocefalia posicional é o termo para definir cabeça achatada. Acontece depois do nascimento, quando o bebê passa muito tempo na mesma posição, fazendo pressão em um lado do crânio, que é molinho e flexível. Bebês múltiplos e prematuros apresentam maior chances de desenvolver o problema.
O número de casos aumentou muito desde os anos 90, quando passou-se a recomendar dormir de costas.

2 comentários:

  1. Desculpem a qualidade das fotos, estou enlouquecida procurando os cds de back up de fotos do primeiro ano do Luka e nao encontro em lugar algum! Tive que improvisar e ficou ruim, sorry!

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  2. realmente a fisio ajuda muito. por causa da posição no utero minha filha só queria dormir em uma posição, com o pescoço beem tortinho. chama torcicolo gestacional ou congenito.é muito comum. fizemos fisio a aprtir de 40 dias, 3 vezes na semana até 8 meses (optamos por fazer em casa, particular e não pelo plano no brasil). valeu mto a pena!

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