sábado, 19 de maio de 2012

Pai de primeira viagem: o que não aprendi em livro algum

Antes do Luka nascer, passei uns 7 meses devorando informações sobre a gravidez e como cuidar de um bebê. Livros, revistas, web, tv, tudo servia e ajudava. Ficava triste que meu marido não se interessava muito, nem encostava muito na barriga, não parecia interessado nos movimentos do bebê. A maior participação que eu sentia dele era que, todos os dias após meu banho, passava creme nas minhas pernas e pés, porque eu já não alcançava (lembro de ter chorado por causa disso, mas daí grávida chora até para cortar tomate!).

Um dia entendi que a preparação dele aconteceu de uma maneira diferente, pensando no lado emocional e financeiro, e deixei a insegurança de lado. Minhas dúvidas eram sobre como evitar assaduras, limpar a gengiva e cortar unha, que shampoo usar, que roupa vestir pra não passar calor/frio, etc etc etc etc etc etc etc, e principalmente, o parto. As dele, quando poderemos comprar uma casa?, qual carro devo comprar?, minha mulher vai ter tempo para mim?, porque precisa gastar tanto dinheiro com cadeira de amamentar?, meu filho vai gostar de mim? Nunca mais vou dormir bem?....

O Luka demorou para nascer. Que o diga a cunhadi Paola, que ficou aqui na Inglaterra esperando e quase induziu o parto sozinha! Era previsto para o dia 5/9/09, e nasceu no dia 13, uma segunda-feira. Nesse último final de semana, o Ryan se deu conta de que tudo iria mudar de repente, e resolveu se informar também. Do tipo que usa Google e You Tube para absolutamente tudo, o marido pegou o computador e em meia-hora estava pronto. Leu e assistiu e aprendeu passo-a-passo como dar banho e trocar fralda do bebê, tarefas a ele delegadas.

Depois que o Luka nasceu, tive que ficar 2 noites no hospital em observação. Nada de mais, mas tive um pouco de pressão alta no final da gravidez (ainda bem, porque essa foi a ‘desculpa’ para conseguir ser induzida!), e a norma nesse caso é observação. Na primeira noite ele dormiu como um anjo, das 24 as 5hrs. Acordado, só mamava e olhava tudo e todos, com muita curiosidade. Nossa, que fácil, e eu estava preocupada a toa! Hum hum… Segunda noite, esse menino não parava de chorar. Eu estava sozinha na maternidade (proibido acompanhante dormir), morta de cansaço, e sem dormir. Coloquei ele na cama comigo para mamar enquanto eu dormia (culpada! culpada! – li em livros que não deveria fazer isso por perigo de cair no sono e sufocar o bebê!). Ele chorava, eu dava o peito, chorava mais, trocava o peito, chorava de novo… as parteiras e enfermeiras entravam no quarto, pegavam no colo, ele parava de chorar e dormia no bercinho. Minutos depois, mais choro, eu pegava de novo, dava o peito, mais choro. Eu achava que não tinha leite, ou que ele tinha cólica. Peguei no colo e andei no quarto, ele parou de chorar. Fui dar uma volta no corredor, até uma salinha de espera onde havia outras mães com seus filhos dentro dos bercinhos. Uma parteira veio me xingar, o que eu estava fazendo ali, era proibido sair do quarto com o bebê no colo, poderia escorregar, cair, fugir, sei lá! A parteira levou o Luka de volta pro quarto, eu enrolei uns 2 minutos e voltei também, para encontrá-lo dormindo no berço como um anjo. Que ódio daquela mulher que sabia cuidar do meu filho melhor que eu! E assim passou a minha primeira noite de terror.

De manhã cedo, Ryan voltou para nos buscar. Luka dormiu a manhã inteira enquanto aguardávamos liberação da médica. Até mesmo quando o colocamos na cadeirinha para ir no carro, não acordou. Em casa, dormiu outras 2 ou 3 horas talvez. Uma paz.

Eu estava cansada e fraca, com dores para sentar causadas pelo parto e pela episiotomia, e outras nas costas por causa da peridural. A única coisa que eu fazia era amamentar, assim que o Luka largava o peito, Ryan assumia, e fazia TUDO. Até minha mãe ficava sem jeito, pois não sabia se ele queria ajuda ou se ela estava atrapalhando! Coisa mais linda de se ter, um pai tão dedicado e um marido tão parceiro!

Quando você não dorme à noite e sua rotina está de pernas pro ar, você perde a noção do tempo, mas acho que demorou mais uns 3 ou 4 dias pra eu me dar conta de 2 coisas muito importantes: eu não sabia arrotar o meu filho, e muito menos trocar sua fralda!

Foi o Ryan que percebeu que eu não sabia fazer ele arrotar, e me ensinou. Foi quando eu me dei conta de que, no hospital, provavelmente era por isso que o coitadinho estava desesperado. A bandida da parteira devia arrotar ele direitinho e colocar dormir, e quando ele acordava chorando e eu dava mais peito e não fazia ele arrotar, começava tudo outra vez! Poxa, alguém poderia ter me falado!! E a sensação de insegurança nesse momento, de que havia muitas coisas ainda que eu não saberia fazer?

Como a fralda. Essa já foi mais simples de aprender, mas engraçado lembrar como fiquei nervosa nas primeiras trocas. Realmente, tudo sobre trocar fraldas eu tinha lido e aprendido, mas colocar em prática é diferente! E o Ryan, com seu videozinho do You Tube e 2 ou 3 dias de experiência, era um expert. Eu já sabia que, quando você tira a fralda, o neném provavelmente vai fazer xixi, então já estava (mentalmente) preparada, mas não tinha a menor coordenação motora para lidar com o contratempo! E o cocô? Nunca tinha visto aquilo, o Luka, quando fazia cocô, saia um jato do bumbum dele! Roupas, carpete, tudo foi alvo. Mas logo aprendi e tudo estava dentro da possível paz e normalidade que a vida com um recém-nascido pode proporcionar.

Nesses primeiros dias da chegada do Luka, aprendi que não sabia fazê-lo arrotar e trocar fralda, aprendi que buscar ser uma mãe perfeita é louvável, mas cansativo e de certa forma prepotente, aprendi que precisamos de ajuda, e  aprendi que tenho sempre a aprender. Mas, principalmente, aprendi que eu não estava sozinha, e que meu filho tinha um pai.



Nenhum comentário:

Postar um comentário